segunda-feira, 23 de maio de 2016

Sobre Gustave Flaubert.

Gustave Flaubert é conhecido como um dos pais do realismo na literatura, sendo influente para os muitos escritores que vieram posteriormente. Vejamos uma pouco sobre sua vida e obra.

Pintura feita por Eugène Giraud.
Flaubert nasceu(1821) na cidade francesa Rouen, foi concebido numa família de classe média com tradição no catolicismo e protestantismo. Passou sua infância ao lado dos seus cinco irmãos no Hospital de Ruão, aonde seu pai trabalhava como cirurgião-chefe. Na época de colégio,  dirigiu um seminário escolar chamado "Arte e progresso", compôs um drama para teatro em prosa chamado "Luís XI" e escreveu ainda seu primeiro romance "Rêve d'enfer". Ainda nesse período se apaixonou por uma mulher mais velha Elisa Schlesinger, tendo trinta anos mais tarde revelado a ela sua paixão não correspondida em uma carta.  Elisa foi inspiração de vários  seus texto como, por exemplo, "Mémoires d'un fou"(1838), "Novembre"(1842), "A educação sentimental"(1845,1869).

Estudou direito na universidade por pouco tempo, pois não se interessava por isso, passando, assim, boa parte desse período como um boêmio. Essa fase foi marcada, também, pelas crises nervosas que posteriormente o diagnosticaram como um histérico-epiléptico. Foi isolado para o tratamento em um sítio de Croisset.

Teve um casamento que pouco durou( cerca de 2 anos). Logo após isso, ele organiza uma viagem pelo oriente, passando por Egito e Jerusalém. Na volta, também passou por Constantinopla e Itália.

Depois de uma pausa de  14 anos (1842-1856),  ele publica, em folhetim, sua obra mais famosa: "Madame Bovary", obra polêmica que, devido seu estilo critico e realista sobre sua condição social burguesa , foi muito criticada pela sociedade da época, Flaubert acusado por "imoralidade". Porém, ele foi absolvido em em fevereiro de 1857. 
Cena do filme "Un coeur simple"(2008), de Marion Laine.

Seus escritos são marcados pela ironia e pelo pessimismo da humanidade,  ele é considerado por alguns como um grande moralista de seu tempo. Sua escrita era perfeccionista, tendo demorado cinco anos para concluir Madame Bovary, pois sempre buscava "as palavras certas".

Foi reconhecido em vida por grandes escritores Victor Hugo, Jules Michelet e Hector Berlioz.
Morreu(1880), acredita-se, de AVC. Em seu enterro compareceram alguns escritores que o reconheciam como mestre, dentre eles estavam Émile Zola, Alphonse Daudet, Edmond de Goncourt, Théodore de Banville e Guy de Maupassant.


"Um coração simples" foi uma das poucas novelas de Flaubert,  ela foi publicada no livro "Trois contes"(1877)  junto de outras duas novelas. O clube disponibilizou este texto pela a edição da Grua Livros.  Antes dos encontros faremos uma sessão fílmica com uma adaptação de 2008. 
Venham participar!

Referências:

Gustave Flaubert. Disponível: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Gustave_Flaubert>. Data de acesso:23/05/2016.
 

 
Texto: Abdiel Anselmo (Letras/Português - Bacharelado, 7º semestre)

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Diário Literário (12/05/2016) - Met‘AMOR...fos(s)e ...’


OS OLHOS DE GREGOR - Letícia Brígido
Quando certa manhã o pai de Gregor acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado pelo Alzheimer. E, agora? Seria, ele, também, visto somente como um fardo para a família? Rejeitado e descartado, assim como acontecera a seu filho? 

Não! Não é preciso acordarmos transformados em uma barata ou um escaravelho. Basta amanhecermos enfermos... com esclerose múltipla... ou esclerose lateral amiotrófica... ou artrite deformante... ou, quem sabe até, basta apenas envelhecermos.

Produziu? Teve boa aparência? O mundo interessa-se por você! Desenquadrado, porém, desse modelo, você é um forte candidato a ser menos que um copo descartável. É a sociedade capitalista, meus caros! Entretanto, analisarmos tudo à luz da sociedade, culparmos sempre, e tão-somente, o sistema, é, de certa forma, afastarmos, de nós mesmos, nossa parcela de responsabilidade. Sim! É a sociedade capitalista! Mas, também, é a atitude de cada um de nós!!! Somos nós que rejeitamos nossos velhos dentro de casa, paralelamente ao descarte promovido pela sociedade. Somos nós que os abandonamos, simplesmente riscando, em nossos dicionários, a palavra “gratidão”.

Gregor carregava toda a família sobre seus ombros. A mãe fragilizada não podia trabalhar! O pai cansado não podia trabalhar!   A irmã muito jovem não podia trabalhar!!! Gregor, encarcerado no ofício de caixeiro-viajante, cotidianamente frustrado, mal vivia.            Só trabalhava, trabalhava, trabalhava!!! Tudo pela família! Mas a metamorfose veio! A de Gregor... a de seu quarto... a da casa... a de sua família. Antes, o pai, a mãe e a irmã eram um fardo, porém Gregor assumia a responsabilidade desse fardo com consideração e amor. Agora, Gregor era o fardo! E a palavra “gratidão”? Riscada do dicionário familiar!!!

Gregor, o inseto monstruoso, comovido ao toque do violino. Gregor, o inseto monstruoso que, antes do débil último fôlego da existência, ainda recordou-se da família com emoção e amor. Gregor, era ele mesmo o inseto monstruoso??? “Diante dele, o  pai só considerava adequada a severidade extrema.” Gregor, era ele mesmo o inseto monstruoso??? Os familiares sequer tiveram a consideração de enterrá-lo... nem mesmo a curiosidade de saber que destino a faxineira dera ao cadáver. Gregor, era ele mesmo o inseto monstruoso??? Nenhum lampejo, ainda que tênue, de recordação que ali estava partindo o filho, o irmão... mesmo que aprisionado dentro de sua tragédia pessoal de inseto monstruoso.

Uma experiência intensa! O pretérito e o presente fundindo-se e confundindo-se nos pensamentos de Gregor (“será mesmo que o Natal já tinha passado” – indagou-se, angustiado, em dado instante). O não reconhecimento das cercanias acrescendo-se ao rol de suas excentricidades (o hospital em frente à sua residência a parecer-lhe um deserto com terra e céu cinzentos, embaralhados um no outro). Alheamento do tempo e do espaço! Uma alienação do mundo real!!!

Ah! O surreal, tão distante... e não tão distante assim!!! Em Kafka,        o real amalgama-se ao fantástico para estampar a verdade na face de quem a olha, mas insiste em não ver. E a narrativa em 3ª pessoa mescla-se com um “eu” silenciosamente gritante. Tudo, tudo é metamorfose!!!

Minha filha Letícia, de 9 aninhos, entusiasmada parceira em minhas incursões pelo universo da leitura, não se conformou com o desfecho que Kafka atribuiu à sua novela literária. Argumentei que outro não poderia ser seu término, pois,  se dourasse a pílula, adotando um final feliz, Kafka não alcançaria seu maior êxito: o de desferir um soco certeiro na boca do estômago de cada leitor. A verdade ali posta, nua e crua, para, quem sabe, com isso, conseguir deflagrar, em nós, o início de uma metamorfose. Uma metamorfose absolutamente indispensável ao homem contemporâneo, sem o que todos estarão destinados à desumana descartabilidade, à solidão, ao vazio de amor.

Enquanto conversávamos a respeito de “A METAMORFOSE”, minha filhinha desenhava... desenhava... e a irmã de Gregor levantava-se e espreguiçava seu corpo jovem, antes do ponto final. Estampando os olhos de Gregor nas asas de uma borboleta, minha menina pensou na metamorfose após a metamorfose... seu desenho era sua liberdade de escrever um novo final. A borboleta a sobrevoar um céu, metade rubro, metade verde, onde a esperança se inscrevia sobre o sangue, com força de superação. E, no alto da página, Letícia sintetizou seu sentimento em uma única frase:
 
“Após sua morte, ele voou. E seu corpo era jovem!”.


Enfim, toda geração tem esse direito! Direito de sonhar! Direito de lutar!!! Direito de reinventar-se em suas metamorfoses!!!


Texto: Rita de Cássia Brígido Feitoza (Graduada em Letras e Direito pela UFC )

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Resenha - "O HOMEM QUE SALVOU A CORROMPIDA HADLEYBURG"




Hadleyburg, uma pequenina cidade norte-americana. É da observância dessa estrutura microscópica que seremos conduzidos, pelas mãos de Twain, mais precisamente por suas palavras, ao universo da condição humana.

Os leitores, já à porta da narrativa, são recepcionados com a asserção de que “Hadleyburg era a mais honesta e certinha cidade em toda a região”... . As palavras têm alma! E cabe ao leitor buscar a intenção de cada alma inscrita em determinado contexto, pois, da investigação dos propósitos dos vocábulos explícitos, ou, sobretudo, dos que encobrem seus intentos nos véus sutis das entrelinhas, é que formamos a trajetória de pistas para montar o quebra-cabeça proposto pelo autor. É do sentimento de cada palavra eleita, quer para o palco, quer para os bastidores, que conseguimos apreender a profundidade de um texto. O atributo “certinha”, por exemplo, em nada é gratuito nessa frase inaugural da novela. Ele, por si só, já nos conduz a uma certa desconfiança quanto à autenticidade da honestidade de Hadleyburg.

Na cidade “certinha”, nem tudo é tão certinho assim: em dada ocasião, a descortesia de um de seus moradores avilta um estrangeiro, que, ressentido, resolve tramar um ardil para desmascarar a incorruptível Hadleyburg. O forasteiro acena para a ganância humana com a vultosa soma de quarenta mil dólares, em moedas de ouro, desencadeando, entre os cidadãos ditos ‘probos’, uma série de sentimentos contraditórios. Xeque-mate! Cai por terra a presunção de honradez mantida ao longo de três gerações.

Mas teria esse misterioso forasteiro realmente arruinado a cidade?
Afinal, como corromper o já corrompido? Sim, Hadleyburg já era corrompida! Corrompida pela presunção da incorruptibilidade, pelo orgulho desmedido, pela arrogância da aparente superioridade.

Diante da estratégia daquele estranho, Hadleyburg desviou-se da verdade, ou, pela primeira vez, deparou-se com sua real verdade?

“A mais frágil de todas as coisas frágeis é a virtude que não foi testada a fogo” , assevera Twain. De fato, um ser humano, só quando posto à prova, encontra-se face a face com suas virtudes e defeitos e, apenas aí, é que se aprofundará seu autoconhecimento. Foi exatamente essa a oportunidade que a crise moral instalada na cidade ensejou.

Uma mentira grudada na face não se desmascara sem que a pele padeça. Mas a verdade, pouco a pouco, a regenera. E a liberdade de abraçar a virtude, por si próprio, e não por mero ditame do código de bons hábitos e costumes, cicatriza o que foi preciso sofrer para ser. Hadleyburg tinha que passar por esse processo de dilaceramento que enfim, em uma nova visão, era um processo de salvamento.

O forasteiro, cego de ressentimento, não avistara o que estava além de seu estratagema: a fragilidade da vingança. A vingança respira o mal e aspira ao mal, mas nem sempre é o mal que ela alcança. O bem, também, tem suas artimanhas para se fazer presente e atuante, ainda quando não aguardado ou não bem-vindo. Pois quem diria: o homem que corrompeu Hadleyburg foi o mesmo que salvou a corrompida Hadleyburg das correntes do falso moralismo.

E o que dizer de nós, na contemporaneidade? Corrupção envernizada por uma pseudo-honestidade não nos parece uma situação bem familiar?

Apesar de iniciar sua genial novela com a frase “Isso se passou muito tempo atrás.”, Mark Twain, realmente, deu à luz uma narrativa que transcende épocas. E, com ela, aprendemos!


 
Texto: Rita de Cássia Brígido Feitoza (Graduada em Letras e Direito pela UFC )

domingo, 8 de maio de 2016

Sobre Kafka.

Como poucos autores, Franz Kafka tem em uma novela sua obra-prima mais conhecida e uma das que mais influencia artistas ainda hoje. Falemos um pouco mais sobre a vida desse que é por muitos considerado o autor mais importante do século XX.

Franz nasceu (em 3 de julho de 1883) durante o império austro-húngaro, onde atualmente se encontra a República Tcheca. Cresceu sob a influência das culturas judia, tcheca e alemã, tendo na língua alemã escrito grande parte de sua obra. Isso se deve ao fato de que naquela época havia um prestígio maior por essa língua em relação à tcheca. Viveu num período conflituoso tanto em seu país quanto no continente europeu. Vivenciou a primeira guerra mundial; não em combate, pois tinha tuberculose(doença incurável na época),  mas se influenciou bastante nos conflitos ideológicos e sociais de seu período. Nascido em família judaica abastada, não se tornou um judeu ortodoxo, tendo na adolescência se revelado ateu. Já foi socialista e  teve leituras de autores anarquistas que foram importantes em sua formação. Já adulto se engajou no movimento sionista, movimento internacional judeu que resultou na formação do Estado de Israel.

Trabalhou como oficial de seguros boa parte de sua vida. No começo, teve dificuldade de balancear o tempo gasto no trabalho "ganha pão"( como se referiam seus pais ao trabalho escolhido pelo filho somente com o intuito de pagar suas contas) com o trabalho da escrita, que mais que trabalho era sua vocação.  Alguns anos antes de falecer, Kafka foi afastado do trabalho para ser internado, passando o resto da sua vida migrando de sanatório a sanatório. Segundo ele mesmo, essa foi a melhor fase de sua vida, pois tinha menos responsabilidades e podia se dedicar a sua escrita.
Desenho feito por Kafka.

Enquanto vivo, ele nunca teve o reconhecimento de suas obras pela crítica e pelo público em geral. Muitos de seus livros(principalmente os romances) não foram concluídos antes de sua morte. Seu amigo Max Brod foi que, contrariando os desejos de Kafka, decidiu organizar e publicar a maioria de suas obras. É difícil falar qual foi a principal obra de Kafka, pois obras como O processo, A metamorfose, O castelo, Carta ao pai foram influentes e costumam ser representativas do que seria o estilo de Kafka. 

O autor teve influências de Fiódor Dostoiévski, Flaubert, Franz Grillparzez e Heinrich von Kleist, que, segundo ele, seriam os seus “verdadeiros irmãos". É por isso que vemos em sua escrita um realismo nos detalhes e descrições impecáveis, reflexo de suas influências.  Ele esteve vinculado à Escola de Praga, que foi marcada por textos de cunho realista e metafísico com toques de sarcasmo.

Filme russo Metamorphosis, 2002.
Sua influência nos autores posteriores como Albert Camus, Jean-Paul Sartre, Milan Kundera, José Saramago e Jorge Luis Borges são evidenciadas por estudiosos do assunto, porém ele é pouco citado por outros autores.
Kafka se tornou um fenômeno mundial tão influente que utiliza-se o adjetivo "kafkiano"(em inglês, fala-se “Kafkaesque”) em coisas que são marcadas pela surrealidade das ações, evocando a falta de sentido e a impossibilidade de ajuda.



Como já dito, a obra A metamorfose, disponibilizada pelo clube na edição da Companhia das Letras,  é uma leitura essencial de Kafka, talvez o único livro que foi concluído e publicado enquanto vivo que teve reconhecimento. 

Se preparem para os debates e compareçam à sessão fílmica que acontecerá durante a semana trazendo algumas releituras sobre a obra de Franz Kafka.

Referências.
Franz Kafka. Disponível: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_Kafka>. Data de acesso:08/05/2016.
 
SANTANA,Ana Lucia.  Franz Kafka. Disponível:<http://www.infoescola.com/biografias/franz-kafka/> Data de acesso:08/05/2016.
 
E-biografia: Franz Kafka. Disponível:<https://www.ebiografia.com/franz_kafka/> Data de acesso:
08/05/2016.
 
Escritor Tcheco Franz Kafka. Disponível:<http://educacao.uol.com.br/biografias/franz-kafka.jhtm> Data de acesso:
08/05/2016.
 
Texto: Abdiel Anselmo (Letras/Português - Bacharelado, 7º semestre)

terça-feira, 3 de maio de 2016

Diário Literário (28/04/2016)

Nesta quinta-feira (28/04/16) tivemos um agradável fim de tarde no Centro de Humanas da UECE (Fátima). No projeto "hora da novela", supervisionado pela Professora Dra. Sarah Diva e capitaneado por seu aluno Abdiel, degustamos um café literário sobre o livro "O Homem que Corrompeu Hadleyburg" de Mark Twain.
        Em um bate-papo, bem descontraído, discutimos sobre o enredo que trata da vingança de um forasteiro à esta cidade chamada Hadleyburg. Mundialmente conhecida como uma cidade incorruptível, repentinamente, seus moradores vêem essa fama ameaçada por um arquitetado plano deste forasteiro. O autor nos confronta com possíveis carapaças de um pseudopuritanismo que podem se mostrar bem  frágeis  quando postas à uma prova de fogo, sabiamente elaborada pela mente vingativa do forasteiro.
        Só que o restante da história, e se a vingança foi bem sucedida, deixarei que você descubra lendo a obra.
        Já aproveito para convidá-lo para nosso próximo encontro que será dia12/05/2016, onde debateremos sobre o livro "A Metamorfose" de Franz Kafka. 
Até lá, boa leitura.

Texto: Estêvão Tabosa (Letras/Português - Licenciatura, 1º semestre)